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Não falo da pilhagem aos restos dos rendimentos da classe média e aos parcos ou nenhuns das classes mais baixas, para uma descarada transferência destes para o sector financeiro. Não falo no esvaziamento, nem na mercantilização de serviços públicos, tornando-os mais um filão para a avara, imbecil e incompetente classe empresarial e/ou financeira portuguesa.

Ao contrário do que possa sugerir o título,não vou falar de futebol. Poderia enveredar por piadas fáceis com o apelido do treinador do Sporting, mas vou evitá-lo.

Vou sim falar de acontecimentos recentes que me têm levado, precisamente, aos limites da paciência. Limites esses, que em alguém que se diz muito racional, não podem deixar de emitir um alerta imediato assim que são atingidos. Ver fluir o meu pensamento para a aceitação ou necessidade de violência, admito, não me agrada.

Apesar de associados, não falo destes meses de governação da direita. Não falo da pilhagem aos restos dos rendimentos da classe média e aos parcos ou nenhuns das classes mais baixas, para uma descarada transferência destes para o sector financeiro. Não falo no esvaziamento, nem na mercantilização de serviços públicos, tornando-os mais um filão para a avara, imbecil e incompetente classe empresarial e/ou financeira portuguesa. Não falo da penalização fiscal que sofrem os rendimentos do trabalho, em contraponto com a protecção aos rendimentos do capital. Na realidade, tudo isto era tão óbvio aquando da eleição deste governo, que dificilmente é por mim recebido com uma agitação maior do que o encolher de ombros de quem diz “eu bem avisei”.

O que tem vindo a mexer de forma preocupante comigo, tem sido a desfaçatez e a fossanguice labrega com que os perpetradores dos actos acima descritos os têm praticado. Poder-se-á alegar que o conteúdo de tais actos seria sempre revoltante, independentemente da forma utilizada para os anunciar. Mas a falta de escrúpulos a que se tem assistido no discurso deste governo e seus satélites demonstra algo de novo.

Atingimos um ponto altíssimo de insensibilidade. Ainda assim, ninguém pode acreditar que em dez milhões de habitantes, não haja um, que no limite do desespero perante o desemprego ou a pobreza iminente, não atinja também o limite da paciência face a governantes que aconselham boa parte da população qualificada deste país a abandoná-lo. Ou perante deputados carreiristas desta maioria que discursam alarvemente sobre as culpas dos “direitos adquiridos” na situação económica a que chegámos e as responsabilidades da geração anterior à minha, que sempre viveu abaixo do que lhe foi devido, mas que, para o próprio, deve realizar mais sacrifícios para garantir algumas migalhas para os mais jovens. E, pior, que não se sintam séria e pessoalmente ofendidos com o desdém com que o mais alto magistrado desta república fala dos seus bem mais que razoáveis rendimentos e se esquece dos seus proveitos de negócios nunca explicados com um dos bancos que mais esburacou as nossas contas públicas.

Assim, dificilmente estranharei ou condenarei se viermos a assistir a um cidadão que, perante tudo isto, venha a perder a cabeça numa visita de um destes dignitários a uma qualquer vacaria deste país, partindo para a agressão. E é esta insensibilidade e aceitação da possibilidade de violência que me preocupa. E que temo não ser o único a atingir.